quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Resenha: VÔTS! Crônicas em Quadrinhos

 

Vôts! Crônicas em Quadrinhos nº1

Vôts! apresenta “experimentos narrativos” produzidos por membros do coletivo Tinta Negra.

Por Paulo Ricardo (Onomatopeia)

Vôts! Crônicas em Quadrinhos nº1 (2016) é uma publicação idealizada e produzida pelo Coletivo Tinta Negra, com HQs produzidas por Marcio CoelhoGilvan LiraIvan Cabral e Williandi Albuquerque. A revista traz seis histórias curtas que se distinguem entre si em gênero, estilo de arte e proposta temática.

Em Plec! (Gilvan Lira) um troglodita atravessa uma mata quando uma onça cruza seu caminho, daí em diante se dá um confronto de vida ou morte. O encadeamento dos quadros, em conjunto com a arte detalhada de Lira, ajuda a criar uma tensão sobre quem vai sair vivo enquanto os oponentes se digladiam na relva.

O Romeu de Julieta (Marcio Coelho)mostra um breve recorte acerca de um inusitado caso de amor, que se passa em um futuro aparentemente não tão distante, em que os preconceitos ainda conseguem criar obstáculos e distanciar as pessoas. Apesar de ser contada em apenas uma página, a narrativa consegue inserir o observador minimamente no contexto do drama vivido pelos personagens.

Na HQ cômica As feras estão soltas (uma lenda em Ponta Negra), de Marcio Coelho, um valentão embriagado provoca arruaça quando é confrontado por um morador do bairro, que após ser desrespeitado e agredido pelo bêbado, sofre uma transformação e ensina ao machão uma lição sobre não julgar as pessoas pelas aparências.

(En) canto (Ivan Cabral) ilustra a mudança de percepção do protagonista acerca da sua relação com os pássaros. Na História, um menino da área rural prepara uma armadilha para prender uma ave. Na espera para ver sua iniciativa se concretizar, o garoto dorme e sonha com algo que o faz se colocar no lugar dos animais e passar a valorizar sua liberdade. A HQ que trata da questão ecológica, tema recorrente no trabalho de Cabral, tem um traço agradável e uma composição que torna a leitura fluida e de fácil compreensão.

O Dia da Noite Eterna (Williandi Albuquerque) mostra um soldado em uma zona de guerra, lutando para persistir em meio ao fogo inimigo e em busca de conforto naqueles que podem ser seus últimos momentos de vida. A arte realista transmite toda a densidade e dramaticidade da situação de um combatente ferido, exaurido e desesperançado.

Encantos e Desencantos (Marcio Coelho) se desenrola numa noite de lua cheia quando uma moça aparentemente inocente e despreocupada faz um piquenique na margem de um lago, entretanto, seu sossego é ameaçado por uma criatura que a espreita e se aproxima nas sombras. Deste ponto em diante, a atmosfera de suspense construída dá lugar ao humor e uma cadeia de reviravoltas absurdas se desenrola, e que terminam por diluir o efeito humorístico. Vale ressaltar o uso enfático das onomatopeias como recurso cômico.

Explorando situações diversas, em contextos variados de época e ambientação, as histórias apresentam artes que, ainda que se diferenciem bastante em traço, cumprem com competência o que pretendem. Desde o mais caricato, com sua expressividade e exageros de feições, passando por vertentes de representação mais sóbrias e minuciosas. “Vôts”, a interjeição que nomeia a publicação carrega em seu significado a ideia de estranhamento ou espanto. São exatamente essas sensações que ficam ao terminar de ler esta edição. Se isso é bom ou ruim vai depender do gosto de cada um.

Fonte: ONOMATOPEIA

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